O menino que nunca faltou
à Escola Dominical


Livro Memorial em homenagem ao Reverendo
JOÃO NELSON BETTS
Organizadores: Grupo de Pesquisa da História do Metodismo no RS, Vicente M. Dalla Chiesa, Vania Kratz Mendes e Daví Nelson Betts.
APRESENTAÇÃO
Vicente M. Dalla Chiesa (1)
Conheci o Reverendo João Nelson Betts em setembro ou outubro de 2015, quando, a convite do professor João Paulo Aço, passei a integrar o Grupo de Pesquisa da História do Metodismo no Rio Grande do Sul (GPHMRS), que se reunia na sala do Instituto Teológico, no prédio da Biblioteca do IPA. De início, me impressionou o aspecto físico do Reverendo: postura ereta, muito magro, ar austero. A impressão de grande austeridade, no entanto, se desfazia no momento dos assuntos gerais da reunião, quando ele abria a pasta de materiais que invariavelmente trazia consigo para doar ao acervo do Grupo, e discorria sobre seu conteúdo. Naqueles momentos, se apresentava diante de nós, com entusiasmo e riqueza de detalhes, múltiplos fragmentos da história da Igreja Metodista. Sua fala dificilmente se alongava, como se manifestasse preocupação com o uso racional do tempo. Por outro lado, os olhos do nonagenário brilhavam como os de um menino quando, eventualmente, fazia alguma observação espirituosa sobre o que estava sendo dito.
Aos poucos, conversando com ele e ouvindo o que diziam sobre ele os colegas de grupo, fui entendendo quem ele era e porque sabia tanto sobre o Metodismo Gaúcho. Fiquei conhecendo sua história pessoal: o último dos filhos dos missionários americanos, a esposa também filha de missionários, os pais atuantes em escolas e igrejas, o sogro edificador de templos, sua formação nos Estados Unidos, sua atuação pastoral e institucional. Passei a perceber a dimensão do indivíduo e a importância de sua presença no Grupo. Seus familiares, amigos, conhecidos e companheiros de trabalho eram aquelas pessoas cujos nomes líamos ao compulsar os documentos do passado.
Posso dizer que tive a felicidade de partilhar do convívio dele nesses encontros. As vezes, conversávamos em inglês antes ou depois das reuniões. Pude formular a ele algumas questões que me intrigavam a respeito do meu próprio projeto pessoal de pesquisa, dúvidas que a leitura de fontes escritas não esclarecia, e nunca deixei de receber alguma consideração ou dado que permitisse pensar mais além. Através dele, por exemplo, fiquei sabendo do acordo estabelecido no início do século XX entre a lgreja Metodista e a lgreja Episcopal, no sentido de dividir o Rio Grande do Sul em esferas de atuação, com base em um eixo imaginário leste-oeste que passava pela cidade de Santa Maria: ao norte dessa linha, seria um campo de trabalho a ser ocupado preferencialmente pelos metodistas; ao sul, seria a área de atuação episcopal.
Com o tempo, pelas naturais dificuldades decorrentes do avanço da idade, a presença do Reverendo Betts nas nossas reuniões passou a ser menos frequente.
lsso não impediu que, em 2019, por iniciativa do Grupo, ele tenha recebido o título de Doutor Honoris Causa, em tocante cerimónia realizada no Auditório Oscar Machado do lPA.
O texto lido na ocasião por Edgar Zanini Timm, colega do GPHMRS, abre a segunda parte desta coletânea.
Nosso afastamento foi maior a partir de 2020, quando, em razão da pandemia de COVlD-19, os encontros presenciais cessaram. No entanto, o GPHMRS sempre esteve atento a comemoração de efemérides, e tínhamos em mente que o ano de 2022 era o do centenário do Reverendo. Nesse contexto, fui encarregado pelo Grupo de organizar um escrito comemorativo, uma obra coletiva em homenagem aos seus cem anos de vida. Nesse ínterim, em julho de 2022, ele faleceu, o que somente reforçou a necessidade da realização da homenagem.

A terceira, intitulada lmagens & Registros, apresenta registros visuais do Reverendo Betts em diversos momentos de sua vida, e é também uma homenagem a um hábito pessoal dele, que nos legou um enorme acervo de fotografias.
Desde o início deste projeto, pude contar com o apoio de Vânia Kratz Mendes, que, mais do que uma colaboradora, é uma co-organizadora desta homenagem. Foi ela quem contatou a maior parte das pessoas que, generosamente, dispuseram de seu tempo para elaborar os textos que são aqui apresentados. A ela e aos autores, meus sinceros agradecimentos.
A organização desta coletânea também permitiu que eu me aproximasse de Daví Nelson Betts, filho do homenageado, cujo timbre da voz, ao telefone, sempre me faz lembrar o de seu pai. Ele é o organizador da parte fotográfica desta obra, e responsável pela sua editoração e disponibilização eletrônica. Daví está se tornando, sponte sua, o administrador do imenso acervo resultante do paciente trabalho de registro e compilação feito por João Nelson Betts sobre a História do Metodismo no Rio Grande do Sul, em parte já disponível no site do próprio Reverendo, agora mantido por Daví (https://metodismorgs.webs.com). A ele, também co-organizador deste trabalho, meu muito obrigado.
Por fim, agradeço também a Vera Elaine Marques Maciel, coordenadora do Grupo de Pesquisa de História do Metodismo no RS, pela indicação para assumir a tarefa de organizar esta obra.
Desejo que estas páginas possam aproximar todos os leitores das diferentes e ricas dimensões humanas de João Nelson Betts, estudante, pai, pastor, professor, pesquisador, e agente de transformação espiritual e social.
Porto Alegre/RS, nove
(1) Mestrando em História (PUCRS). Membro do Grupo de Pesquisa da História do Metodismo no Rio Grande do Sul (GPHMRS).