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Histórias da minha História

Corria o ano de 1922 quando, na casa pastoral da Igreja Metodista de Passo fundo, RS, minha mãe, Francisca Betts, trouxe-me à luz do dia, na tarde de sexta feira, 1º de dezembro. Como era possuidor e uma vasta cabeleira preta, já, no dia seguinte, sábado, a tesoura teve de entrar em ação.

​***​

De conformidade com o que relata a revista “The Young Christian Worker” de fevereiro de 1925, o menino John Nelson, no seus dois primeiros anos de vida, deixou de estar presente na Escola Dominical por ape-nas duas vezes, e isto nos dois primeiros domingos de sua vida. 

(Creio que o Guiness Book – livro de recordes- não ficou sabendo deste fato)

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Meus pais, a partir de janeiro de 1921, além do pastoreio da igreja local, receberam a responsabilidade da direção do educandário que recebeu o nome de Instituto Ginasial de Passo Fundo. Concluída a construção do prédio de aulas e do internato, passaram, a partir de meados de 1923, a residir no internato no setor reservado para a direção. Foi ali, onde, a 29 de fevereiro de 1924, ano bi-cesto, nasceu o meu irmão Billy, com uma parca cabeleira loura.

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No ano de 1925, ano do “furlow” (uma espécie de ano sabático) dos meus pais, rumamos para os Estados Unidos, onde, Billy e eu, fomos apresentados aos nossos avós, materno e paterno, bem como aos tios e tias, mas não aos primos, pois estes ainda não haviam nascido.

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Foi na casa de nossa avó Scott onde, a 26 de julho, nasceu nossa irmã Joy, que, com apenas três meses de idade, nos acompanhou de volta ao Brasil; não para Passo Fundo, mas para o Rio de Janeiro, onde meus pais assumiram a direção do Instituto Central do Povo. Billy e eu devemos ter nos divertido muito nesse ano que ali passamos, ao menos a foto ao lado parece dizer isso.

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Em 1927 meus pais retornaram para a direção do Instituto Ginasial em Passo Fundo. Meu mano e eu, embora não tivéssemos idade para ingressar na escola, ele com quatro anos e eu com cinco, fizemos questão ter o uniforme que todos os alunos usavam. Afinal de contas nosso pai era o diretor da escola, portanto tínhamos o direito de usar o uniforme. Passamos a ser considerados os mascotes do colégio.

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Dois anos depois, papai foi nomeado para o pastoreio da Igreja em Cruz Alta e superintendência do Distrito. A partir desse período as lembranças são mais claras. Lembro-me de que já estava com a idade de sete anos e pronto para ingressar na escola.

  

Mas eu me recusei a ingressar. Eu ia brincar até os doze anos e só então iria começar a estudar. Afinal de contas não tinha Jesus doze anos quando pela primeira vez foi ao templo em Jerusalém?

  

Por outro lado, o meu irmão, embora ainda não em idade escolar, insistia em querer ir para a escola. Mamãe costurou o uniforme para ele. Quando o vi todo arrumadinho em seu uniforme escolar eu também quis um. “Uniforme é só para quem vai para a escola”, disse a minha mãe. Billy e eu fomos colegas de turma do primeiro ano do primário até concluirmos o curso ginasial.

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Domingo, Dia das Mães, o templo estava lotado, todos com seu topezinho: branco em memória de mãe falecida, vermelho em gratidão à viva. No programa: cânticos, recitativos, poesias, testemunhos. Logo depois de uma declamação, dedicada ás mães falecidas, quando a tristeza e algumas lágrimas rolavam, eu, empolgado com tudo, sentado ao lado de minha mãe exclamei: “Eu também sei uma poesia” e escapei de seu lado, subi ao palco, fiz a minha mesura e, a alto e bom som, recitei: “Quando eu era pequenino minha mãe me dava leite, agora que sou grande é só laço e porrete! O auditório trocou as lágrimas pelo riso e eu, sem compreender o porquê, voltei chorando para o lado da mamãe, que, me abraçou e beijou, procurando confortar-me.

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Minha irmã, Joy, ou Joinha, como a chamavam, recebera de presente de aniversário uma linda boneca que abria e fechava os olhos e, quando inclinada para frente, dizia: “mamãe”. Um dia, Billy e eu, intrigados em saber como a boneca dizia mamãe, urdimos um plano.

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Precisava ser operada para que pudesse falar tudo, não só mamãe. Fomos brincar com a Joy e sua boneca. Em meio à brincadeira convencemos a Joy de que a boneca estava muito doente, pois só dizia mamãe. Precisava ser operada para que pudesse falar tudo, não só mamãe.

A muito custo a convencemos a permitir a operação. Papai e mamãe não estavam em casa, haviam saído para uma visita. Sobre o assento de uma cadeira uma toalha branca onde se encontravam uma tesourinha, uma faquinha de ponta e um rolo de esparadrapo. O Billy como médico eu como enfermeiro, abrimos a barriga da boneca e tiramo-lhe o “estomago”, o aparelho que dizia mamãe. Ainda intrigados, com a faca rompemos o fole do aparelho, que deixou de funcionar. Informamos então á Joy, que chorava copiosa-mente, que infelizmente a operação não tinha dado certo e que boneca havia falecido. Colocado o estomago de volta na boneca, fechado com esparadrapo, tornamos a vesti-la e informamos à Joy de que a boneca, estando morta,  teria que ser enterrada. Num canto escondido do fundo do quintal fizemos a cova para a sepultura. Eu fui o pastor oficiante. Após declarar o “terra à terra, pó ao pó e cinza à cinza, até o dia final” (deveria ter dito até o fim do dia) cobrimos o túmulo, colocamos algumas flores, tiradas do jardim, e colocamos uma cruz. A joy foi para o seu quarto, onde se fechou, chorando desesperadamente. Ao regressar para casa a mamãe perguntou por que a Joy chorava, ao que ela respondeu: “a minha boneca foi operada e morreu e está enterrada lá no fundo do quintal.” Será preciso contar o que aconteceu depois disto?

***

Não lembro do seguinte episódio, é a mamãe que conta. Eu brincava de ser pastor. Tinha como meu púlpito um caixote de querosene, como congregação meu irmão, minha irmã e as boné-cas dela. A certa altura de minha pregação declarei com todo o entusiasmo: “Vocês não precisam ter medo do diabo. Deus o pegou pelo rabo e o atirou lá no fundo do inferno para morrer queimado.” (Há! Minhas heresias começaram cedo...)

***

Para os anos de 1931 e 1932 papai foi nomeado para o pastoreio da Igreja em Uruguaiana e como professor de matemática e latim no Colégio União. Foi em Uruguaiana, a 3 de dezembro de 1931, que nasceu a nossa irmã Anita. Billy e eu freqüentamos o segundo e terceiro anos do Colégio União. Ficou bem gravado em minha memória o seguinte fato, ocorrido quando no terceiro ano. A nossa professora, da. Ruth Winkler, um dia solicitou que eu e mais dois outros colegas ficássemos após as aulas. Para mim ficar depois das aulas era “ficar de castigo”. Estava extremamente chateado e envergonhado. Quando os outros alunos se retiraram da aula, da. Ruth convidou- nos a nos aproximar de sua mesa. Abrindo a gaveta retirou um prato com um lindo cacho de uvas e disse: “Vamos saborear umas uvas antes de conversarmos sobre a dificuldade que vocês tiveram com a última prova.” Não foi um castigo. Foi uma demonstração de seu interesse em ajudar-nos em nossa dificuldade de aprendizado. Uma verdadeira professora!

***

 

Eu era aluno do Departamento Intermediário da Escola Dominical. Meu professor era o então jovem Pedro Ferreira Martins, aspirante ao ministério, estudante no Colégio União. Como parte de seu programa de ensino tínhamos que aprender de cor o versículo bíblico - texto áureo da lição. Fui um dos três que decorou os 52 versículos do ano. Como prêmio cada um de nós ganhou uma linda Bíblia, com o nome gravado na capa em letra dourada. Confesso que não gostava das aulas e, lá com meus botões pensava: “quando eu for professor não vou ensinar assim.”

   

Acontece que dez anos mais tarde, no meu primeiro ano de Faculdade de Teologia, passei a ser professor de uma classe de intermediários na Escola Dominical. De repente dei-me conta de que estava ensinando da mesma maneira que meu antigo professor de Escola Dominical. Foi quando eu me voltei para o estudo na área de educação cristã, aproveitando minha classe como laboratório de aprendizado.

***

Semana Santa de 1932. Rev. João Inácio Cerilhanes realiza uma série de conferências evangelísticas No Domingo da Páscoa, por ocasião do encerramento da Escola Dominical, ele faz um desfio aos que estavam prontos a serem seguidores, discípulos de Jesus, que viessem ajoelhar-se no altar enquanto era cantado o hino 200 do Hinário Aleluias –“Tudo a ti Senhor consagro”. Relutei em aceitar o desafio, mas quando cantávamos a quarta estrofe do hino:

 

Tudo a ti Senhor, consagro

Pois eu sinto o teu amor

Transformar a minha vida

E meu coração, Senhor!

 

Eu dirigi-me ao altar com a determinação de ser um Seu seguidor, discípulo, decisão que confirmei, dois anos depois, assumindo os votos de membro da Igreja Metodista do Brasil.

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Ano de 1933. Papai é nomeado para iniciar trabalho metodista nos estados de Sta. Catarina e Paraná. O local escolhido foi o das cidades gêmeas de Porto União, SC. e União da Vitória, PR., separadas pela linha da estrada de ferro, ambas banhadas pelas águas do Rio Iguaçú. Papai teve dificuldade em conseguir alugar casa para nossa residência e local para a realização de culto, pois o vigário da cidade havia declarado que excomungaria qualquer pessoa que o fizesse.

  

Coisas da providência divina. O proprietário da única e bem sortida casa de ferragem e material de construção, mudou-se para o novo prédio, um imponente edifício de dois andares, o único da cidade.  

O papai conseguiu alugar o casarão e galpões onde funcionara a empresa.

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Quando o vigário ficou sabendo foi questionar o proprietário, que, por sua vez, replicou: “se sua reverendissima der um aluguel melhor (que já era exorbitante) eu desfaço o negócio.” O vigário um tanto exasperado, ameaça com a excomunhão, ao que o proprietário, calmamente, responde: “Não se esqueça, senhor vigário, foi o senhor mesmo que me vendeu uma cadeira no céu. Estou protegido.” Dois anos depois a Igreja Metodista adquiriu a propriedade e mais a contígua, onde em 1935, ergue-se o primeiro templo Metodista do que é hoje a Sexta Região Eclesiástica.

***

Como possuidor de uma das poucas bicicletas da cidade, era minha responsabilidade, nos fins de tarde, ir á padaria para providenciar o pão para a família, que então contava com mais quatro pensionistas. Uma tarde, regressando da padaria, ao passar em frente de uma quitanda, um garoto de minha idade, filho do quitandeiro, atirou um tomate estragado em meu rosto.

Furioso saltei da bicicleta e corri atrás dele, mas não consegui alcança-lo. Voltando para onde deixara o saco de pão e a bicicleta caída, vi o quitandeiro, que tudo presenciara, e revoltado me dirige á ele: “O senhor viu o que seu filho fez?” ao que ele cinicamente respondeu, em seu sotaque ciro-libanes: “Tras ele aqui que eu surro ele.”

  

Passado algum tempo, Billy e eu juntamente com alguns colegas escoteiros, estávamos tomando sol a beira do Rio Iguaçú, onde costumávamos ir para nadar, quando num bote a remo, o garoto que me atirara o tomate no rosto, juntamente com um seu irmão e um primo, nos viram e começaram a nos insultar. Em pé no barco, gesticulando e gritando, o barco virou. Os três, que não sabiam nadar, apavorados se agarraram á borda do barco, que por sorte deles não afundou. Vendo a precária situação dos três, Billy e eu nadamos até o barco tomando da corda usada para prende-lo ao ancoradouro, puxamo-lo até a praia onde os ajudamos a desvirar o barco para que pudessem prosseguir no seu passeio. 

  

Passados uns três meses os dois irmãos aparecem na sede dos escoteiros pedindo para fazer parte do grupo. Dias depois, o Michel, o que havia atirado o tomate, perguntou: “Por que você e seu irmão foram em nosso auxílio depois do que eu fiz para você e o estarmos xingando vocês?” ao que respondi: “Por que queríamos ser seus amigos!” Anos mais tarde, quando eu exercia o pastorado em Curitiba, Pr., o Michel, embora católico, procurou-me pedindo que ajudasse o seu irmão, Aníbal, que enfrentava um difícil problema familial, o que me foi possível fazer.

***

 

O Rev. Herbert Gorsuch, ajudante de meu pai no trabalho da igreja, organizou o grupo dos Escoteiros Iguaçú. 

No primeiro acampamento que fizemos, para o período de vigília da noite, foi feita uma escala. Cada um de nós, escoteiros, teríamos que fazer a guarda do acampamento por um período de uma hora, que constaria em dar uma volta ao acampamento cada cinco minutos e manter o fogo acesso.

Meu período de guarda foi das duas às três horas da madrugada. Confesso que minha coragem era da boca para fora. Para manter o fogo acesso eu tinha que buscar a lenha na pilha que ficava uns bons metros longe do fogo. Eu ficava fitando o fogo enquanto de costas me dirigia para a pilha de lenha, e voltava apressadamente para junto do fogo. Já havia dado três voltas ao acampamento quando olhei para o relógio e me pareceu que faltava só quinze minutos para terminar meu período de guarda. Apressado comecei a dar as seis voltas ao redor do acampamento. O chefe, de dentro da barraca, perguntou: “O que há, João Nelson, algum problema?” “Não, chefe, não é nada, estou fazendo a minha ronda.” Terminada as minhas seis voltas ao acampamento, sentei-me novamente junto ao fogo e, olhando para o relógio, me dei conta de que ainda tinha trinta minutos de guarda. E como custaram a passar! Mas o pior aconteceu na segunda noite. Enquanto eu fazia a guarda, desta vez das quatro ás cinco da madrugada, percebi algo se movendo perto do local onde era guardado os mantimentos. Tremulo gritei:” Quem vem aí?” Não havendo resposta, lancei o bastão naquela direção. Um uivo de cachorro ferido e eu corri apavorado para a barraca, gritando:

 

“um tigre, um tigre...” Todos na barraca assustados, abraçados uns aos outros choravam e gritavam, sem saber o que fazer. A muito custo nosso chefe conseguiu acalmar o grupo que permaneceu acordado até o raiar do dia.​

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***

 Dos muitos acampamentos de que participei, em Porto União, um é inesquecível. Foi o primeiro acampamento de cinco dias. Éramos apenas 16 escoteiros e nosso chefe Gorsush. Subimos pelo rio Iguaçu cerca de três quilômetros e acampamos num limpado de mato a beira do rio. Acampamento montado: quatro barracas, confecção de mesa para a cozinha, suporte para as panelas, lenha empilhada, barril de água cheio de água coletada de uma pequena fonte, duas mochilas cheias de pinhão, catado debaixo dos pinheiros, varal para estender a roupa, estacas para delimitar a área do acampamento. Depois os jogos de “Caça a Raposa”, “Em Busca do Tesouro”, os concursos de nós, ataduras, mensagens de semáforas e de morse. A noite, após o “Fogo do Conselho”,a escala para a guarda do acampamento.

  

E aí aconteceu o inesperado. Da meia noite até as seis horas da manhã choveu torrencialmente. As barracas, que não eram impermeáveis, não impediram que nós e toda a nossa roupa ficassem encharcadas. Isso aconteceu todas as noites. Felizmente o dia se mantínha ensolarado, facilitando nossa tarefa de estender a roupa para secar. Foram então que surgiram os versos do estribilho:

Anauê, Anauá,

Anauê, Uê Ua,

Escoteiro vai cantando

Seja aqui, seja acolá!

Escoteiro sai da chuva
Você vai se resfriar
A chuva está peneirando,
Peneirando pelo ar.
Esta chuva não me molha
Porque eu sou muito magrinho
Eu passo zigue zague
Só por entre esses pinguinhos!

Eu não me resfrio não
E nem fico endefluxado
Escoteiro é bicho safo
E não fica molhado!
Esta chuva p'ra me molhar
É preciso que me lave
Eu sou feito de azulejo
Tenho o corpo impermeável!

***

As excursões, os acampamentos, os passeios de barco, as horas de natação, os trabalhos manuais, as competições, os sinais de pista, os nós, os primeiros socorros, as mensagens por semáfora ou morse.

Tudo isso me empolgava. Mas o que mais me marcou foi a Lei do Escoteiro – os dez artigos da Lei, que busquei seguir a risca. Na verdade, o escotismo foi a minha “religião” dos onze aos dezoito anos de idade.

A seguir Os Dez Mandamentos da Lei do Escoteiro:

  

1º- O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que a própria vida.

2º- O escoteiro é leal.

3º- O escoteiro está “sempre alerta” para ajudar o próximo e pratica                        diariamente uma boa ação.

4º- O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros.

5º- O escoteiro é cortês.

6º- O escoteiro é bom para os animais e as plantas.

7º- O escoteiro é obediente e disciplinado.

8º- O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.

9º- O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.

10º-O escoteiro é limpo de corpo e alma.

***

Em meados de 1935, ano de “furlow” Billy, meu irmão, e eu tivemos a oportunidade de participar por duas semanas de um acampamento de escoteiros no “Camp Graystone” no Estado de Carolina do Sul, nos EUA. Aprendemos a fazer fogo sem fósforo, a fazer uma série de diferentes nós com corda e ataduras de emergência. Mas o que mais nos empolgou foi o remar em canoa de índio, aprender diferentes estilos de natação e fazer o curso de “salva vidas”. Ao redor do “fogo do conselho” entre outras atividades, havia muita cantoria. Um dos cânticos eu recordo:

Come, everybody come,
Join a happy Sunday School
And have a lot o f un
Please leave your razors and guns at the door
And hear more stories than you ever heard before!
Samson was a mighty man
He was stronger than a dynamite can.
He pushed on the pillar and the temple fell
And everyone had to run like hell!

***

Em 1937, Billy e eu fomos como alunos internos para o Instituto Ginasial, em Passo Fundo, RS onde completamos os cinco anos de ginásio. Fomos colegas de quarto no dormitório, durante todo esse período, sem sequer uma rusga, quando antes de irmos para o internato, tínhamos quase que diariamente os nossos desencontros (segurança? senso de unidade familiar? autodefesa?) Nos dois primeiros anos eu tirei o primeiro lugar da classe e o Billy o segundo, mas daí em diante o Billy ponteou a classe eu fui ficando para segundo, terceiro e até quarto lugar. A seguir as minhas “razões” ou “justificativas” para o meu declínio em escolaridade.

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Todos os segundos Domingos do mês, nós alunos do internato íamos ao culto vespertino na Igreja Metodista.

Tudo isso me empolgava. Mas o que mais me marcou foi a Lei do Escoteiro – os dez artigos da Lei, que busquei seguir a risca. Na verdade, o escotismo foi a minha “religião” dos onze aos dezoito anos de idade.

Não prestamos atenção à pregação que o Rev. Sante Uberto Barbieri fazia. Lembro-me apenas do apelo feito no final da mensagem: “A seara esta branca para a ceifa. Onde os obreiros? Quem responderá: Eis me aqui envia-me a mim? Senti o chamado de Deus: João Nelson eu preciso de ti. Enquanto cantava-se o hino 200 do hinário Aleluias: “Tudo a ti Senhor entrego, corpo e alma tens-me aqui,” dirigi-me ao altar entregando minha vida para servi-Lo na Sua seara. Na mesma ocasião o Cláudio Cadorna de Moraes tomou a mesma decisão.​

***

Com essa decisão minha participação em atividades eclesiais aumentou. A convite do sr. Helmuth Homerich e sua esposa da. Serena assumi uma classe de escola dominical na capela da Vila Rodrigues, nos domingos pela manhã e uma classe de meninos, na Vila Luiza no período da tarde. Envolvi-me no trabalho da Sociedade Metodista de Jovens sendo convidado a assumir o Departamento de Cultivo Espiritual, responsável pelas devocionais dominicais realizadas antes do culto regular da igreja.

 

E no colégio a minha participação nas atividades regulares do Grupo de Escoteiros Botucarís, no qual exercia a direção da Patrulha do Leão, como seu monitor.

Já no ano seguinte, 1939, juntamente com o colega escoteiro, Ney Duarte, assumíamos a chefia do Grupo de Escoteiros que, por ocasião do Jambori Estadual, realizado em Porto Alegre, por ocasião da Semana da Pátria, foi declarado o mais disciplinado e gabaritado nas atividades escoteiras. Demarcado o local onde deveríamos montar nosso acampamento, antes do “Chefe Mariante,” diretor responsável pelo evento, poder retornar para o seu centro de comando, foi alcançado por um de nossos escoteiros: “Chefe Mariante, o nosso acampamento está montado e pronto para inspeção.” Bem treinados montávamos as oito barracas, em perfeito alinhamento em apenas um minuto e quarenta e cinco segundos. Ponteamos em todas as outras atividades, tais como transmissão e recepção de mensagens pelo código Morse e por semáforas, primeiros socorros e uso do lenço de escoteiro como atadura em diferentes ferimentos, rapidez no uso dos diferentes nós de escoteiro, acender fogo sem fósforo e seguir sinais de pista.

 

Até aí tudo bem. Mas o que hoje me surpreende é como os pais daqueles trinta e dois escoteiros confiaram a sua direção a dois jovens pouco mais velhos que seus filhos. Ney, 18 anos e eu 17 anos, numa viagem de trem de Passo Fundo a Porto Alegre, que, na época, era de um dia e uma noite, e por três dias de atividades na grande capital!

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Também me surpreende o fato do Prof. Oscar Kneipp, diretor do internato permitir que alunos internos fossem sob minha direção nadar no Redondão, uma pequena represa com seus trinta metros de diâmetro, mas com mais de cinco metros de profundidade. Isto porque aos doze anos eu havia participado de um curso de “salva vidas na água”. Os grupos foram sempre muito disciplinados. Usei o método de duplas que tinham mais ou menos a mesma habilidade de natação. Deviam sempre nadar juntos. De cinco em cinco minutos eu dava um apito. E as duplas tinham de estar juntas, se não estivessem teriam que ficar fora da água até o próximo apito. No caso do companheiro estar em perigo gritar por socorro, mas não procurar salvá-lo. Então eu daria um apito geral para todos saírem da água, enquanto lançava a bóia salva-vida e trazendo a vítima a salvo. Nos meus três anos nessa atividade lancei a bóia uma dúzia de vezes sem qualquer perigo de perda de vida.

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Num final de tarde de Domingo, quando regressava de minha atividade com os guris da Vila Luiza, e atravessava o campo de futebol em direção ao internato, fui alcançado pelo Gustavo Graeff que me inquiriu: “Que diabo que você tem, João Nelson, que você vive sempre tão contente? Você não fuma, não bebe, não vai a baile, não participa de farras, afinal qual o segredo de sua alegria e felicidade?” “P´ra começar, com o diabo eu não tenho nada! A minha alegria vem de procurar fazer a alegria dos outros.” Caminhamos em silêncio o resto do caminho até a entrada do internato quando o Augusto exclamou: “Você está certo!”

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Fechei-me no meu quarto no internato para preparar-me para as provas de fim de ano, meu último ano de ginásio, quinta série., (aliás último ano em que o curso ginasial teve quinta série) com o intuito de melhorar as minhas notas de final de curso. Alguém bateu à porta. Era o Álvaro Lúcio, meu colega de turma.

 

Sentou-se na beira de minha cama e derramou seu desespero: “João Nelson, não sei o que estou fazendo aqui no IE, quem devia estar aqui é a minha irmã. Ela é muito mais inteligente do que eu, tem boa saúde, eu vivo doente, as minhas notas são baixas estou dependendo de duas matérias para poder me formar, eu acho melhor me matar e acabar com tudo isso...” Tirei a Bíblia de minha estante e passei a ler alguns versículos para o Álvaro Lúcio. “Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos, eu vos aliviarei...aprendei de mim...e achareis descanso para a vossa alma.” (Mt 11.28). “Todo aquele que ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, não entrará em condenação, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5.24). “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância.” (Jo 10.10). O Álvaro aí me interrompeu exclamando: “João Nelson, temos andado juntos esses quatro anos, e só agora me falas dessa graça’? Durante esses quatro anos eu estava intensamente envolvido na “ação da igreja” como aspirante ao ministério, professor em duas Escolas Dominicais, assíduo aos cultos dominicais e de meio da semana, Pres.da Sociedade Metodista de Jovens, Pres. do Grêmio Religioso de IE! ......(” Não te importa se algum dos amigos morrer sem ter conhecimento de Cristo? Deixas que no juízo ele venha a dizer: A mim nunca falaram de Cristo!?”) Três anos mais tarde quando entrei no salão de cultos da Igreja Metodista em Curitiba, Pr, onde meu pai era na época o pastor, o Álvaro Lúcio veio ao meu encontro e com grande e forte abraço disse, feliz da vida: “Já encontrei o caminho a verdade e a vida – Cristo!”

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Tudo isso me empolgava. Mas o que mais me marcou foi a Lei do Escoteiro – os dez artigos da Lei, que busquei seguir a risca. Na verdade, o escotismo foi a minha “religião” dos onze aos dezoito anos de idade.

Num final de tarde de Domingo, quando regressava de minha atividade com os guris da Vila Luiza, e atravessava o campo de futebol em direção ao internato, fui alcançado pelo Gustavo Graeff que me inquiriu: “Que diabo que você tem, João Nelson, que você vive sempre tão contente? Você não fuma, não bebe, não vai a baile, não participa de farras, afinal qual o segredo de sua alegria e felicidade?” “P´ra começar, com o diabo eu não tenho nada! A minha alegria vem de procurar fazer a alegria dos outros.” Caminhamos em silêncio o resto do caminho até a entrada do internato quando o Augusto exclamou: “Você está certo!”

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Meus pais, meu irmão e minhas duas irmãs já haviam retornado para Porto União, SC, onde residíamos, quando, a 5 de dezembro, também retornei para casa.

A certa altura da viagem sentado no banco do trem, enquanto contemplava pela janela a paisagem que se descortinava diante de meus olhos, lembrei-me da noite em que, pela primeira vez deixava Porto União, tomando o trem para Passo Fundo. Na despedida a única recomendação dada pela mamãe e pelo pai foi : “João Nelson, nós te amamos. Nós confiamos em ti.” De relance recordei os cinco anos como aluno interno e de convites que recebi de meus colegas para participar de uma porção de cosias que se delas tivesse participado teria traspassado o coração de meus pais. Como poderia fitá-los e declarar: eu os amo, se tivesse praticado aquelas coisas que eles desaprovariam? Foi quando parei e perguntei-me a mim mesmo; “Mas Deus, o meu Pai Celeste, não me ama mais do que meus pais terrenos? Porque leva-lo-ei novamente à cruz?” Até aquele momento eu havia vivido por amor de meus pais, mas dali para cá por amor a meu Pai Celestial. Não houve mudança no meu modo de viver, mas o centro de minha vida mudou. A minha vida, o meu modo de viver, é a minha resposta ao Seu amor. “DEUS TE AMA. RESPONDE AO SEU AMOR.”

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Em fevereiro de 1942 rumei para a cidade de São Paulo para ingressar na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil. Estava, provisoriamente, estabelecida na Rua Cubatão, na Vila Mariana.

 

Meus pais, meu irmão e minhas duas irmãs já haviam retornado para Porto União, SC, onde residíamos, quando, a 5 de dezembro, também retornei para casa.

No vasto terreno havia quatro residências para professores e o prédio principal, ainda incompleto, onde havia um apartamento para a direção, dormitório para os alunos, salas de aula, biblioteca e um anexo para refeitório e cozinha.

 

Na oportunidade dessa transferência éramos seis alunos da Região Eclesiástica do Sul: Geraldo Daniel Stédile, Walter Antunes Braga, Jacques DÁavila, Cláudio Cadorna de Moraes, Mário Coll de Oliveira e eu.

 

 Jorge Vicente da Silva da quinta região; Adelino Moreira da terceira região; Oswaldo Jacobson também da quinta região,      Na turma do primeiro ano éramos: Moacir Lousada Machado, que mais tarde foi eleito bispo servindo na sua região eclesiástica de origem, a quarta região; e eu da segunda região, tendo, mais tarde, ocupado

a cadeira de Educação Cristã, na Faculdade de Teologia de 1957 a 1960, e a secretaria executiva da Junta Geral de Educação Cristã 1965-1971.

 

Foram nossos professores: Rev. João Ramos Junior, Hebraico e História Geral; Rev. Jalmar Bowden. Exegese do Velho Testamento; Rev. Ary Bomcristiani Ferreira, Grego e Novo Testamento; Rev. Almir dos Santos, Homilética e Pastoral; Rev. Nathanael do Nascimento, Sociologia e Administração Eclesiástica; Norberto Schutz: Psicologia e Educação Cristã; Prof. Isac Salum: Português e Latim; Prof. Henrique Maurer Filosofia e Parapsicologia.

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 Jorge Vicente da Silva da quinta região; Adelino Moreira da terceira região; Oswaldo Jacobson também da quinta região,      Na turma do primeiro ano éramos: Moacir Lousada Machado, que mais tarde foi eleito bispo servindo na sua região eclesiástica de origem, a quarta região; e eu da segunda região, tendo, mais tarde, ocupado

Entre os novatos havia um que pegava qualquer livro, quer fosse em português, espanhol, inglês ou alemão. Uma tarde um dos veteranos colocou sobre a mesa de descartes, uma das preciosidades da biblioteca. Uma enorme Bíblia poliglota – o texto em oito línguas diferentes. Chamou o calouro informando-o de que o referido livro fora descartado. Entusiasmado levou o livro para o quarto. Horas depois o prof. Bowden, vindo á biblioteca deu falta da referida Bíblia. No seu português americanizado exclama: “Oh! Quem é o mal-educado que arrebatou esse livro de valor tão grande?” Como ninguém soubesse responder o prof. Bowden foi de quarto em quarto a procura do referido compêndio. O encontrou na estante do aluno novato. “O senhor não sabe que esse livro não pode sair da biblioteca? Leva já de volta!” “Desculpa-me, prof. Bowden, mas o livro estava na mesa de descartes e eu peguei.” O senhor tem que tomar mais cuidado com seus colegas, alguns são muito brincalhão.”

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Um dos alunos, o Eliezer Púglia, era um exímio artista em imitação. Ele nos divertia ao imitar cada um dos professores, gestos, modo de falar, cacoetes, etc. Uma tarde enquanto em um dos quartos no dormitório ele nos divertia imitando um ou outro dos professores, passou a imitar a maneira americanizada de falar do prof. Bowden. Foi quando alguém bateu à porta. Ao abrirmos a porta o professor Bowden declarou, calmamente: “Com licença, eu queria saber se eu estava aí dentro.” Ele também tinha um senso de humor.

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 Jorge Vicente da Silva da quinta região; Adelino Moreira da terceira região; Oswaldo Jacobson também da quinta região,      Na turma do primeiro ano éramos: Moacir Lousada Machado, que mais tarde foi eleito bispo servindo na sua região eclesiástica de origem, a quarta região; e eu da segunda região, tendo, mais tarde, ocupado

 

mãos juntas em posição de oração, voltou-se para o Rev. Lee e com um aceno de cabeça (convite para que o Rev. Lee fizesse a oração) fechou os olhos. O Rev. Lee ficou olhando para o Dr. Moore que, mais uma vez, acenou para que ele fizesse a oração. No terceiro aceno o Rev. Lee, com sua trovejante voz exclama: “Se o senhor quer que eu faça oração, então diga! E passou a orar. Nós alunos nos vimos em apuros para não rir.

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Mais uma vez o Prof. Almir chamou a atenção do referido aluno.      Numa aula de “Higiene Rural” sob a regência do Prof. Almir dos Santos, no sonolento primeiro período de aula da tarde, um dos alunos, deixando de prestara atenção à aula, abriu um livro de outra matéria. Prof. Almir solicitou que o aluno fechasse o livro e prestasse atenção á preleção. O aluno obedeceu, mas alguns minutos depois voltou a abrir o livro. Mas

quando pela terceira vez o aluno tornou a abrir o livro o prof. Almir perdeu a paciência e irritado, em voz alta ordena ao aluno, apontando para a porta da sala de aula:” Pegue os seus livros e retire-se!” Ficou um ambiente desagradável.

 

     Dois dias depois, ao retornarmos para a aula de Higiene Rural, logo de início, o Prof. Almir dirigiu-se a classe: “Eu peço desculpas a vocês por ter perdido a paciência, em nossa última aula, deixando um ambiente desagradável”. E voltando-se para o aluno que expulsara da aula, disse:” Peço desculpas a você, não por tê-lo ordenado a sair da aula, mas pela maneira irritada em que o fiz.” O aluno, por sua vez, reconhecendo sua atitude errada , pede desculpas ao professor. De mãos dadas alunos e professor erguem a Deus uma oração de gratidão pela graça do perdão.

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Como aluno da Faculdade de Teologia, bilíngue de nascença, sempre que visitantes dos EUA dirigiam a palavra em nossas assembléias e cultos, eu servia de intérprete. Uma ocasião interpretando o Rev. Stanley Jones, fiquei embasbacado. Afirmou ele: “O cristão tem sempre o seu rosto marcando dez minutos para as duas; e o não cristão, vinte minutos para as quatro!” Não compreendendo a charada, voltei-me para as outras pessoas que conheciam o inglês. Também não compreenderam. Foi então que o Rev. Stanley Jones desvendou a charada:

 

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 Em 1946, ano de minha formatura na Faculdade de Teologia, fui intérprete do Rev. Marshall Steel, em uma série de palestras. Ele era pastor da Highland Park Methodist Church, junto ao campus da Southern Methodist University, Dallas, Texas, USA. Indagou de meu interesse em estudar na Faculdade de Teologia (Perkins School of Theology) da SMU. Manifestei o meu desejo de fazer o Mestrado na área de Educação Cristã. Em nome de sua igreja ofereceu-me uma bolsa d estudo, completa, que desfrutei de meados de 1947 a novembro de 1949. Recebi o grau de Bacharel em Divindade em junho de 1948 e o Mestrado em Educação Religiosa em novembro de 1949.

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Num sábado a tarde, enquanto me encontrava no escritório do Rev. James E. Ellis, secretário da Junta de Educação Cristã, em São Paulo, apareceu um jovem, extrovertido e bem aparentado, gabando-se de conhecer todos os pastores do interior do Estado. E para prová-lo apresentou uma porção de “cartões de visita”. O Rev Ellis, tomando os cartões advertiu o rapaz para que não procurasse nenhum pastor na Capital porque sua fama de trapaceiro era conhecida. 

 

Acontece que na tarde seguinte, Domingo, encontrava-me na residência do pastor da Igreja Metodista da Mooca, quando esse rapaz bate à porta. O pastor o convida a entrar, mas ao ver-me, exclama: “Você aqui?” e dá meia volta e retira-se apressado. 

 

No dia seguinte, segunda feira, após o almoço um grupo de seminaristas nos encontrávamos conversando no pátio ao lado do refeitório, quando vejo o dito rapaz subindo a rua em nossa direção. Disse então aos colegas, vocês querem ver este cara dar meia volta e ir embora? O rapaz aproximou-se todo sorridente e cumprimentou o grupo com um “Salve, irmãos”. Adiantei-me e exclamei: “Vamos todos bem, graças a Deus, e o amigo? Vendo-me exclamou: “Você, aqui também!” e rapidamente se retirou. 

 

Um mês depois, encontrava-me a serviço em Curitiba, PR, hospedado em casa de meus pais quando alguém bateu á porta. Fui atender e abri a porta e não é que era o mesmo cara! Quando me viu exclamou: “Não é possível, você aqui também!” e deu meia volta e retirou-se apressadamente!

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Em meados de 1945 tive a honra de ser convidado pela Confederação Evangélica do Brasil, para presidir a Comissão ​Organizadora do II Congresso G​eral da Juventude Evangélica do Brasil. Foi um ano atarefado e de interessante contato com a liderança jovem de congregacionais, episcopais, luteranos, metodistas, presbiterianos e presbiterianos independentes. 

Em julho de 1946, sob o tema: SEREIS LIVRES, pouco mais de seiscentos jovens, das diversas denominações, reuniram-se no Instituto Mackenzie, em São Paulo, para três dias de preleções, grupos de estudo e confraternização. Uma preciosa experiência “ecumênica evangélica”.

 

 

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Iniciando minha jornada pastoral

Como seminarista, de 1942 a 1946, colaborei no trabalho da Igreja Metodista da Moóca, na cidade de São Paulo, nos dois últimos anos nomeado como pastor ajudante.

 

 Minha maior participação foi junto á mocidade, um belo e grande grupo de jovens, setenta e dois ao todo, alegre e entusiasta, na realização de seus cultos devocionais dominicais, bem como dos cultos ao ar livre quando, com canções e testemunhos pessoais, convidavam e traziam ouvintes para o culto regular da igreja. Assíduos participantes das classes da Escola Dominical, bem como das atividades lítero-recreativas mensais.

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Meu grupo de escoteiros na Igreja Metodista da Moóca

Domingo, 5 de Setembro de 1943 - Desponta lindo e majestoso o dia. Quando chego à sede encontro já todos os meus escoteiros esperando para partirmos em nosso primeiro, aliás. segundo acampamento de nossa tropa. As 8.00 horas, em ponto, conforme havíamos combinado, rumamos para o ponto do bonde, alegres e satisfeitos, marchando á cadência do ra-ta-plan. 

 Depois de mais de uma hora de bonde, debaixo de sol quente e amigo, tomamos a estrada para o local do acampamento. Após três quilômetros de marcha fizemos a primeira parada para descanso, pois nossas mochilas estavam bem pesadas com material de campo para l4 escoteiros e para três dias. Os três seguintes quilômetros foram longos e cansativos. O sol estava quente, fazendo correr suor pelas nossas faces.

 

Nossos cozinheiros desempenharam-se muito bem, graças ao esplendido fogão que dois de nossos escoteiros haviam feito.      Às onze horas já estávamos no local do acampamento. Após alguns minutos de descanso e depois de ter sorvido bons goles de água fresca da fonte, tomamos o nosso lanche. Iniciamos então a instalação do acampamento, mastro, barracas, fogão, fossa, latrina e lenha. Concluída a tarefa, um gostoso banho nas águas frias da represa para refrescar o corpo e recuperar as energias. Que janta apetitosa! Nossos cozinheiros desempenharam-se muito bem, graças ao esplendido fogão que dois de nossos escoteiros haviam feito. Era o primeiro que faziam e, mereceram grau cem!

 Com um pequeno Fogo do Conselho, após tirada a sorte para a "hora da guarda", encerramos as atividades do dia com a nossa oração do silêncio: "Morre o sol e, a terra toda em paz se encerra. Dá teu coração aberto a Deus que tens tão perto." De meia em meia hora trocava-se a guarda. Era a primeira vez que meus escoteiros passavam por essa experiência. Nas barracas todos dormem. Ninguém com quem conversar para afugentar o medo e receio da semi- escuridão que envolve o acampamento. O céu límpido e estrelado. Uma doce brisa faz farfalhar de manso a folhagem do mato, fazendo estalar. lá de vez em quando um galho seco. O guarda se sobressalta, volta-se assustado para a direção do estalo, enquanto sua mão aperta com mais firmeza o seu bastão. Reina completa calma. Nervosamente começa a soprar o fogo que, nesses momentos de expectação, havia se reduzido a um braseiro, por ter sido alimentado somente de gravetos. Lembra-se então que sobre ele pesa a responsabilidade do bem-estar e segurança de seus companheiros que dormem tranqüilamente em suas barracas, confiantes da vigilância do guarda.  

 

Levanta-se da beira do fogo e, dominando sua tensão nervosa, rapidamente dá uma volta pelo acampamento, temendo voltar olhar para o lado do mato, receoso de ver algum vulto ou monstro que pudesse roubar-lhe o sossego e dos companheiros. As batidas do coração voltaram ao normal para, de súbito, acelerar de tal maneira que o coração parece querer saltar fora. Não fora nada, apenas uma coruja amiga que, desconsolada, deixava escapar da garganta o seu soluço tristonho, enquanto batendo as azas voa para outra árvore, onde a fumaça do fogo não lhe atrapalhasse a observação noturna. Como custaram passar os 30 minutos da guarda! Com senso de alívio, mas ao mesmo tempo de satisfação por ter feito a guarda, acorda o companheiro que lhe sucederá na guarda.

 

A noite estava fria e começara a cair uma densa neblina, por isso julguei conveniente suspender a guarda. Era apenas uma hora da madrugada, mais de metade dos escoteiros não haviam feito a guarda. Resolvi deixá-los para a próxima noite. Dois dos escoteiros haviam trazido apenas uma colcha para servir-lhes de cobertor. Encolhidos achegados um ao outro procuravam aquentar-se um pouco. Dei-lhes então a minha "capa gaúcha" que tem me servido por mais de seis anos em acampamentos escoteiros, dispensando o cobertor. Nela enrolaram-se e dormiram. O frio foi intenso e, muitas vezes, ouvi os movimentos nas barracas quando os escoteiros procuravam enrolar-se melhor em seus cobertores.

 

Segunda feira, dia 6 de Setembro de 1943 - Levanta-se por de trás das colinas o sol, brilhando em toda a sua majestade. Os escoteiros já estão fazendo a sua higiene individual. Todos comentam o frio e resolvem que irão cortar "barba de bode" para fazer colchão para a segunda noite de acampamento. Um delicioso café quente com bastante pão esquenta-nos o corpo, fazendo esquecer, em parte, a noite fria que já estava passando para o país das recordações.

 

Sobe linda e majestosa a bandeira nacional ao topo do mastro, no alto de uma ameixeira brava, na entrada do acampamento, enquanto dos peitos sadios dos 12 escoteiros irrompe forte e vibrante o hino à bandeira.

 

Com apetite de lobos vorazes devoramos a gostosa e bem-preparada comida que nossos dois cozinheiros, "Coral" e "Raposa" haviam preparado. Após instruções práticas de escotismo, dirigimo-nos para a beira do lago, onde passamos momentos alegres nas águas frescas e límpidas, nadando e remando. Carmino, um dos pequenos, descuidando-se um pouco, entrou em água acima de sua cabeça. Não chegou a submergir pela segunda vez antes que eu chegasse em seu auxílio. Ficamos todos bem queimados do sol.

 

Preparadas as barracas para a noite, com os colchões de "barba de bode" e, já tendo jantado, dividimos nossa turma em dois grupos para jogarmos "Ataque ao Acampamento". Mal havíamos terminado a primeira tentativa do jogo quando percebemos que estávamos sendo atacados de fato. Eram meus colegas do seminário que vieram para prender nosso acampamento. Depois de uma hora de "Sempre Alerta" e "esteja preso" nosso acampamento foi tomado. Pouco depois, um de nossos escoteiros conseguiu iludir a vigilância de nossos captores saindo do acampamento, retornando e dando a voz de prisão aos nossos captores. Depois de um bom café com bolachas em confraternização com nossos "captores" realizamos o nosso "Fogo do Conselho" após o que eles se retiraram. Felizmente a noite não esteve tão fria quanto a anterior, mesmo assim a guarda foi suspensa às três horas da manhã.

 

Terça-feira, dia 7 de Setembro - Dia da Independência é lembrado e comemorado por ocasião do hasteamento da bandeira que, bem acima de nosso acampamento, fica a panejar, beijada pela brisa que vem do mar. Foi um dia cheio pois recebemos visitas dos amigos da Igreja Metodista da Moóca e da petizada do bairro, com quem tivemos a tarde um “quebra" em que fomos derrotados de quatro a um. Às cinco horas já havíamos levantado acampamento e encontrávamo-nos na Via Anchieta, rumando para o Sacoman. Seis longos quilômetros, mas que, sem o peso de nossas barracas, que deixamos quando de passagem pelo Seminário, tornaram-se bem mais fáceis e até mesmo agradáveis. As oito horas separávamo-nos com um Sempre Alerta, para no próximo Sábado estar todos de volta na sede.

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Abre-se uma nova porta

 

Em 1946, ano de minha formatura na Faculdade de Teologia, fui intérprete do Rev. Marshall Steel, em uma série de palestras. 

   Ele era pastor da Highland Park Methodist Church, junto ao campus da Southern Methodist University, Dallas, Texas, USA. Indagou de meu interesse em estudar na Faculdade de Teologia (Perkins School of Theology) da SMU. Manifestei o meu desejo de fazer o Mestrado na área de Educação Cristã. 

     Em nome de sua igreja ofereceu-me uma bolsa de estudos, completa, que desfrutei de meados de 1947 a novembro de 1949. Recebi o grau de Bacharel em Divindade em junho de 1948 e o Mestrado em Educação Cristã em novembro de 1949.

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Minha primeira nomeação pastoral

Ingressei no ministério pastoral da Igreja Metodista do Brasil, por ocasião do Concílio Regional do Sul, em janeiro de 1950. Fui nomeado para a Paróquia de Rosário - São Gabriel, como primeiro pastor residente. Não havia casa pastoral. O Bispo Isaías Sucasas havia adquirido, na Rua Celestino Cavalheiro, 190, em São Gabriel, um casarão inacabado. Fiquei responsável pelo acabamento do prédio que serviria para casa pastoral e salão de cultos e duas peças para Escola Dominical.

 

Deixei minha esposa, Gladys, e o primogênito de um ano de idade, Cláudio, com meus pais em Porto Alegre, e rumei para São Gabriel, onde fui atenciosa e gentilmente recebido pelo guia leigo e família.

  

No segundo dia resolvi acomodar-me na única peça do casarão que estava assoalhada, propondo-me a zelar pelo material já adquirido para o término do prédio. Aquela noite ouvindo barulho estranho na peça anexa, muni-me de um pé de cabra e da lanterna elétrica. Abri vagarosamente a porta que dava para a peça, foquei a lanterna na direção do ruído, e topei com um casal de gambá fazendo amor. Enxotei-os. (Mais tarde um vizinho deu cabo do casalzinho.) Pela manhã, quando voltei a casa do guia leigo, para o café da manhã, ele curiosamente me perguntou se havia visto alguma assombração. A comunidade dizia que a casa era assombrada. O dono da casa havia se suicidado, atirando-se no poço e morrendo afogado. A esposa ficou fora de si, mas continuou a morar no prédio, e durante a noite gemia e gritava. Após sua morte os familiares procuraram vender o casarão, mas ninguém se animava comprar. Foi então que o Bispo Sucasas fez a compra a um preço bem camarada.

  

Em março, acabada a construção, Gladys e Cláudio vieram para a nossa primeira residência pastoral e salão de culto. A esse tempo já havia recebido da parte dos irmãos um pouco da história da nossa Igreja em São Gabriel.

 

A congregação era composta de pessoas humildes, dos pouco mais de cem membros, setenta e dois eram analfabetos e, até certo ponto, submissos às determinações do guia leigo, sargento reformado como tenente, por atos de bravura durante a revolução de 1930. Moreno, orador eloquente, sempre bem-vestido, impunha respeito. Até a primeira visita do Bispo Sucasas à congregação de São Gabriel, na parede, logo acima do púlpito havia, emoldurado, uma grande foto, meio corpo, do irmão guia leigo, (o santo homem de Deus, como se denominava nas reportagens enviadas ao Expositor Cristão). O Bispo mandou substituir a foto por uma cruz e que a foto fosse colocada na parede da sala ao lado.

 

Uma desavença entre os irmãos foi a razão principal da ida do Bispo Sucasas a São Gabriel. O guia leigo organizara, com doze dos irmãos mais chegados a ele, o grupo dos "Discípulos de Jesus", nomeando presidente do grupo o seu capanga. Passado algum tempo, um dos líderes do grupo que se sentiu melindrado, por não fazer parte dos "discípulos", veio queixar-se ao guia leigo, informando-o de que o presidente do "Discípulos de Jesus" na tarde de Domingo fôra visto fazendo aposta nas corridas de cavalos. Para acalmar os ânimos o guia leigo organizou então o grupo dos "Discípulos Puros de Jesus" nomeando o “queixoso” como presidente desse grupo. 

 

Passado mais um tempo, num culto noturno, no salão de cultos, o presidente dos "Discípulos de Jesus" levantou-se, em meio a celebração, acusando o guia leigo de tê-lo rebaixado, organizando os "Discípulos Puros de Jesus", só porque havia apostado nas corridas de cavalos. Se ele havia sido rebaixado por ter apostado nas corridas, o que fazer com o presidente dos "Discípulos Puros", que no Domingo anterior, não só apostara nas corridas como também participara das corridas como jockey. Armou-se uma grande confusão. O presidente dos "Discípulos de Jesus", capanga do guia leigo, que sempre andava armado, puxou do revólver e deu um tiro na única lâmpada que iluminava o salão. Foi uma gritaria, e salve-se quem puder! Alvoroçou toda a vizinhança. A polícia compareceu. O delgado de polícia mandou fechar o salão e proibiu a realização dos cultos. Foi logo depois desse incidente que o Bispo Sucasas veio para São Gabriel para pôr a casa em ordem, e adquirir a propriedade para a Igreja.

 

O nosso irmão guia leigo, ao tempo de minha nomeação, era o presidente, secretário e tesoureiro de todas as organizações da congregação, inclusive da Sociedade Metodista de Senhoras, da qual a esposa dele era a vice-presidente!

 

Um dos meus primeiros atos pastorais foi promover a eleição dos oficiais das Sociedades, Escola Dominical e Junta de Ecônomos, o que não agradou o nosso irmão guia leigo, mas entusiasticamente aceito pela congregação.

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Para poder ler a Bíblia e letras de hinos

Com dez dos jovens, que haviam estudado até o quarto ano primário, preparei-os para usar o "Método Laubach para Alfabetização". 

 

 Minha maior participação foi junto à mocidade, um belo e grande grupo de jovens, setenta e dois ao todo, alegre e entusiasta, na realização de seus cultos devocionais dominicais, bem como dos cultos ao ar livre quando, com canções e testemunhos pessoais, convidavam e traziam ouvintes para o culto regular da igreja. Assíduos participantes das classes da Escola Dominical, bem como das atividades lítero-recreativas mensais.

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Conflito de agenda

Organizada a Sociedade de Jovens passaram a realizar, no pátio da "Igreja", uma ou duas vezes ao mês, reuniões sociais, sempre mal vistas pelo guia leigo. Num dos sábados em que os jovens teriam sua reunião recreativa, por volta das quinze horas, o nosso irmão guia leigo veio me informar que a reunião social não poderia ser realizada porque haveria naquela noite um culto memorial. Objetei dizendo que havia uma reunião recreativa marcada para os jovens aquela noite. Ele argumentou dizendo que já havia convidado a família e amigos e vizinhos de um membro da igreja, falecido há alguns meses atras, para o culto. Lembrei ao irmão guia leigo que o culto memorial na Igreja Metodista era realizado em memória de irmãos cujas vidas tinham servido de inspiração para a congregação, o que não era o caso do irmão em pauta. E mais, que eu não teria condições de realizar tal ofício. "Pode deixar comigo que eu dirijo o ofício, eu conheci muito bem esse nosso irmão", retorquiu ele. À medida que os jovens iam chegando explicava-lhes a razão de ter de suspender a reunião recreativa, convidando-os a permanecer para o dito culto memorial. Um grupo de umas trinta pessoas convidadas para o culto se fizeram presentes. O texto escolhido pelo nosso irmão guia leigo foi João 5.24: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em condenação, mas já passou da morte para a vida" No clímax de sua mensagem argumentou: "Nosso irmão falecido pode não ter sido um bom pai, pode não ter sido bom marido, pode não ter sido bom vizinho, pode ter sido dado a bebida e ter um temperamento agressivo, mas também é verdade que foi aqui nesse salão de cultos que ele ouviu a palavra de Cristo, e foi aqui nesse altar que ajoelhado ele confessou crer em Deus Pai, Pai de Jesus Cristo, nosso Senhor, portanto, afirmo com toda a veracidade: "Nosso irmão falecido não entrou em condenação, mas já passou da morte para a vida: já está na mansão celeste, junto ao Pai. E desafio o meu pastor a dizer que não ! (Não aceitei o desafio, mas no dia seguinte tive uma conversa muito franca com o nosso irmão guia leigo).

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Ecumenismo

Em um dado Domingo, por ocasião dos avisos, no encerramento da Escola Dominical, apresentei à Igreja o convite que nos era feito pela Igreja Episcopal, para participarmos do culto de aniversário da mesma naquela noite. Convidei a todos para que, incorporados, atendêssemos ao convite da Igreja Irmã, e que, portanto, não teríamos culto em nosso salão de cultos. Aí levantou-se o nosso irmão guia leigo e declarou; "Eu estarei dirigindo o culto hoje a noite aqui, e aqueles que forem metodistas estarão comigo!" Eu apenas respondi: "Hoje a noite estaremos juntos no culto na Igreja Episcopal". Ao sair, nosso irmão guia leigo ameaçou: "Ou o senhor deixa a chave comigo, ou hoje a noite eu ponha essa porta abaixo." Depois de muita oração, á tarde fui procurar o capanga do nosso irmão guia leigo, que não estivera presente á Escola Dominical, e expliquei-lhe a situação, ao que respondeu: " Pode deixar comigo, reverendo, eu resolvo o assunto". Tiveram um culto na casa do guia leigo, enquanto o grosso da congregação, juntamente com o pastor, se fez presente ao culto na Igreja Episcopal.

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Questão de vida ou morte

Certa manhã a esposa do nosso irmão guia leigo, profundamente perturbada, veio procurar-me: "Senhor Reverendo, por amor de Deus venha até lá em casa. O diabo tomou conta do meu marido! Ele está decidido a matar um colega dele... isso é uma desgraça... faça qualquer coisa para que ele desista dessa loucura..." Minutos depois chegando a casa do irmão guia leigo, encontrei-o a porta tendo na mão, embainhado, um facão de mato, que acabara de afiar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, exaltado ele passou a derramar a sua justa indignação: "Pedro desembainhou sua espada para defender o Mestre, eu desembainho meu facão para defender a minha honra, quando fui ao quartel para buscar o meu soldo fui insultado, diante de outros colegas, por um sargento baiano, acusando-me de ladrão por não pagar o aluguel de casa de uma senhora, que ele diz eu ser fiador. Eu nunca fui fiador de ninguém, eu apenas apresentei essa senhora como interessada em alugar a casa. Esse baiano vai ver com quem ele está tratando.... na revolução de trinta eu tomei trincheira de paulista a ponta de facão, e para degolar baiano não preciso mais do que um golpe..." Indaguei qual a quantia que estava em disputa, informou-me que era de trinta cruzeiros. Despedi-me, informando que voltaria mais tarde para conversar com ele.

 

Sabia onde residia o dito sargento. Fui procurá-lo. Apresentei-me como pastor e o motivo de minha visita. Derramou, então, sua versão do incidente: "Aquele descarado me chamou, diante dos colegas, de mentiroso, e eu não levo insulto para casa... ele vai pagar por isso", e batendo com a mão no coldre declarou, " e a aqui está o cobrador." Considerei com ele o que aconteceria com a esposa dele e as três filhinhas , bem assim como a esposa e filha de seu desafeto, se porventura o matasse, como também se porventura ele fosse morto.

 

Depois de alguns momentos em que nos mantemos calados, perguntei; " E se a dívida for paga, como fica a situação?" ao que respondeu; "Aí fica tudo liquidado". Tomei meu talão de cheques, preenchi um cheque no valor de trinta cruzeiros e entreguei-lho. "Aquele descarado mandou saldar a dívida dele?!" perguntou ele, ao que calmamente respondi: "Não, eu estou saldando a dívida, para que nenhum dos senhores se torne miserável assassino! O litígio fica desta forma encerrado?" ao que, segurando o cheque, diz: "É, de minha parte fica". Voltei para a casa do guia leigo e informei-lhe que podia guardar o facão porque o assunto estava encerrado.

 

- "O senhor pagou os trinta cruzeiros?"

 

-" Sim, para, pela graça de Deus, evitar uma tragédia para duas famílias, provocada pelos brios feridos de dois chefes de família transtornados por uma dívida de trinta miseráveis cruzeiros." Ao que resmungou: "Foi a sua maneira de resolver essa rixa, mas eu não tenho nada que ver com isso..."

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Resposta a Oração

 O grupo Vigia e Ora reunia-se todas as terças- feiras á noite, e ai de quem não viesse. Uma hora, e às vezes mais, todos de joelhos. Cada um tinha que fazer oração em voz alta, enfatizando os pedidos solicitados pelo guia leigo. Durante os meus seis primeiros meses havia um pedido feito por todos: "Senhor, tu sabes a condição de nossa irmã Luiza, ela é viúva e tem que morar no casebre da irmã dela que tem um marido bêbado. Tem piedade dela e dá uma casa para ela" Cansado de ouvir essa lamuriosa petição, no culto de Domingo anunciei: "Informo aos prezados irmãos que Deus já respondeu o pedido de casa para nossa irmã Luiza. Convido a todos que crêem que Deus já respondeu nossa oração, que estejam no terreno de propriedade dela amanhã as seis horas da tarde, com as ferramentas que possuírem, pás, enxadas, martelo, serrote, e disposição para pôr mãos à obra." Na Segunda feira a tarde, na hora aprazada, só compareceram a irmã e o irmão de dona Luiza.

 

Terça feira quando os irmãos chegaram para a reunião do Vigia e Ora interpelei-os: "O que vieram fazer aqui? Vocês não acreditam na resposta as orações! Vocês não compareceram para ver a resposta que Deus deu!" 

 

Na tarde seguinte, cerca de vinte irmãos(ãs) estiveram presentes. 

 

Na tarde seguinte, cerca de vinte irmãos(ãs) estiveram presentes. Duas semanas depois, no Domingo a tarde, com um culto de ação de graças a Deus, dona Luiza, recebia a sua "casa", um ranchinho de cinco por cinco metros: "saia de tijolo, blusa de madeira e chapéu de palha."

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Faz uma reza para a minha filha não morrer?

Numa manhã quente de Março, bateu à porta de nossa casa uma mulher atribulada, implorando: "O senhor poderia vir lá em casa e fazer uma reza para a minha filha não morrer? Eu já fiz de tudo, já rezei pra tudo que é santo, já tentei toda a sorte de simpatia, dei o remédio que o médico do posto de higiene receitou e nada de minha filhinha melhorar... acho até que vai morrer... quem sabe se o senhor, que dizem ser homem de Deus, pede pra Ele salva a minha filhinha... por favor!" Acompanhei-a até o seu casebre. Afastei o saco de estopa que servia de porta do barraco, era a única abertura que havia naqueles quatro metros quadrados de chão batido, e entrei. Quando meus olhos se acostumaram à escuridão, vi, num dos cantos do barraco, sobre um monte trapos, o corpo, quase esquelético, de um bebê de três ou quatro meses, tendo ao lado uma mamadeira.

 

Indaguei da mãe de onde ela tirava água para fazer a mamadeira da criança, ao que respondeu: "Eu pego água da fonte aí no fundo do quintal". A fonte era o córrego que passava no fundo do quintal, e que servia, também, como bebedouro da vaca do vizinho. "É essa a água que a senhora usa para fazer a mamadeira de seu filho?" ao que ela, magoada pela minha pergunta e tom de voz, responde: "Mas eu fervo a água, homem de Deus." "E o cisco que vem na água como é que a senhora tira? " ao que ela respondeu: "Eu côo com meu vental."

 

Abrimos uma janela no barraco; providenciamos um berço, feito de uma caixa de querosene; roupa para o berço e para o bebê; uma vasilha para ela pegar água na torneira pública há dois quarteirões de seu rancho; vasilhame para ferver a água e preparar a papinha do bebê: e orientação e acompanhamento por uma das irmãs da igreja. Três meses depois a mãe, agradecida e orgulhosa, apresentava o seu bebê, agora bem nutrido, para ser batizado.

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Comunicando a Mensagem para a Comunidade

Até o ano de 1954 a luz elétrica, em São Gabriel, era bastante precária. A velha usina elétrica, conhecida como o "minhocão" só fornecia eletricidade, e assim mesmo com muita irregularidade, por umas duas horas ao anoitecer. Em nosso salão de cultos usávamos três lampiões Aladim.

 

Com a falta de energia elétrica, montei uma carrocinha, com as rodas de minha bicicleta, para carregar uma bateria de automóvel, aparelho de som e o projetor de "slides" (filme fixo), para uma vez por semana, em frente a casa de um ou outro membro da igreja, fazer a projeção de quadros da vida de Jesus e pregação. Essas projeções e pregação, por sua novidade, sempre atraiam um bom número de curiosos. O vigário da Igreja Católica não se agradou e, para combater, distribuiu na cidade um folheto intitulado: "Cuidado com eles" onde acusava os "metodistas" de serem a pior casta de protestantes, demônios vestidos de pele de ovelha.

 

Os membros da igreja queriam que eu preparasse um folheto para responder as acusações do vigário. Convenci-os, no entanto, a usar uma estratégia diferente. Colocamos, na parede frontal de nosso salão de cultos uma vitrine de um metro e cinqüenta por um metro e vinte. Na primeira exibição da vitrine coloquei uma estampa da "Madona e Criança" e uma Bíblia Católica, aberta, tendo sublinhado a expressão de Maria aos copeiros na festa de casamento em Caná da Galiléia: "Fazei tudo que ele vos mandar".

 

Qual não foi a minha surpresa e preocupação, quando um dia ao sair para a rua vejo uma mulher ajoelhada em frente a vitrine fazendo a sua reza. Semanalmente mudávamos a mensagem da vitrine.

 

Uns seis meses mais tarde a vitrine amanheceu despedaçada. Coloquei, então, na mesma, uma faixa com os dizeres: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Dois dias depois apareceu um vidraceiro para repor a vidro quebrado, informando que o pai do rapaz que havia quebrado o vidro o havia enviado.

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Pensamento para o dia

Ainda, como resposta às acusações do vigário, procurei a Radio local para uma apresentação diária de um programa. Solicitei trinta segundos logo antes do noticiário do dia, quando todos estavam com os rádios ligados. Estupefato o gerente da rádio perguntou: "Um programa de trinta segundos?" ao que respondi: "Exatamente, trinta segundos, para apresentar: 'Pensamento para o dia', um brinde da Igreja Metodista aos ouvintes da Rádio São Gabriel." Interessado com a idéia, aceitou fazer a experiência por um mês, gratuitamente. No final do mês, entusiasmado com os pedidos de cópia dos pensamentos, perguntou-me se não desejaria mais tempo para o programa. 

Pedi mais trinta segundos e passei a apresentar: " Meditação para o Dia", oferecendo cópia aos que solicitassem.    

 

Comecei usando mensagens de Santo Agostinho, São Francisco de Assis, São Tomas de Aquino, e outros padres da Igreja Católica.

 

Dentro de poucos meses mais de trinta ouvintes passaram a pedir a remessa regular das meditações. 

 

 O que nos oportunizou um contato pessoal com os mesmos e convite para aceitarem a Cristo como Senhor e Salvador.

 

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Como as situações se ajustam

Fato curioso aconteceu uma tarde, quando indo à farmácia para comprar algum remédio, o farmacêutico perguntou-me qual a razão do vigário, no programa radiofônico da "Ave Maria", estar sempre falando mal da Igreja Metodista? Ao que respondi: "Provavelmente porque ele não conhece a Igreja Metodista ou, porque está mal-informado." Aí ele surpreendeu-me com a seguinte afirmativa: "Eu já disse para o vigário se ele não deixar de falar mal dos metodistas, eu deixo de patrocinar o programa da "Ave Maria" para patrocinar o Meditação para o Dia." Ele continuou patrocinando o programa da "Ave Maria" e os metodistas deixaram de ser atacados pelo vigário.

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Usou limitação para Evangelizar

Hermínio era cabo do exército, embora não pudesse ler ou escrever. Recebeu a divisa de cabo por ser excelente mecânico de "jipe". Em dado Domingo, após a Escola Dominical, solicitou-me sete folhetos de evangelização. Quando no Domingo seguinte outra vez ele pediu sete folhetos de evangelização, interpelei-o: "Hermínio, você não sabe ler, para que quer esses sete folhetos?" ao que respondeu: "Eu não sei ler, mas os outros sabem.

 

Cada dia eu levo um folheto comigo e encontrando com um amigo peço que ele leia o folheto para mim. Daí peço para ele reler outra vez uma parte do folheto, e passamos a conversar sobre a mensagem do folheto." 

 

Hermínio usou sua incapacidade de ler para testemunhar a Cristo. Fruto de seu labor recebi mais de dez de seus amigos a comunhão da Igreja.

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Hoje vou entregar-lhes "o Pão da vida"

Alfredo era entregador de pão. Cedo de manhã atrelava o cavalo a sua carrocinha de pão para atender a sua freguesia. Certo dia veio ao meu escritório e pediu: "Pastor, eu preciso de duzentos Evangelhos de São João. Amanhã é dia de eu receber o pagamento de meus fregueses. Ao fazer a cobrança vou lembrar-lhes que eu tenho levado para eles "o pão nosso de cada dia", mas que hoje vou entregar-lhes "o pão da vida". Vou entregar o Evangelho aberto no trecho onde Jesus diz: "Eu sou o Pão da vida". Surpresos com o gesto, muitos de seus fregueses indagaram de sua religião. Meio encabulado desculpava-se: "Eu sei quem é o Pão da Vida, mas não sei explicar, mas se o senhor quer saber mais a respeito do Pão da Vida, estou certo que o meu pastor estará pronto a fazê-lo." Tive a oportunidade de falar do Pão da Vida a muitas famílias que, não fora essa iniciativa do Alfredo, nunca teria alcançado.

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 Um cartão e um lápis

No meu segundo ano de pastorado, resolvemos realizar uma série de evangelização durante a Semana Santa - de Quinta a Domingo. Ficamos entusiasmados com o resultado. Mais de trinta pessoas deram o primeiro passo. Acontece que, na minha inexperiência, apenas tomamos o nome das pessoas que deram o primeiro passo, sem anotar endereço. Não podendo fazer contato com as mesmas resultou que apenas três foram alcançadas para Cristo, fazendo sua pública profissão de fé e tornando-se membros da Igreja. 

  

No ano seguinte um mês antes da Semana Santa, por inspiração divina, no primeiro Domingo do mês, após uma mensagem lembrando nossa responsabilidade evangelizante, lancei um desafio a congregação, tendo antes distribuído para todos um cartão e lápis: "Se há alguém que você ama suficientemente, para de hoje até a Semana Santa, (a) orar diariamente pela conversão dessa pessoa; (b) entregar-lhe semanalmente um folheto de evangelização que estarei dando para você; (c) conversar com ela sobre o que Cristo tem feito em sua vida e poderá fazer na vida dela; (d) convidá-la e acompanhá-la para a série de evangelização da Semana Santa. Se você está pronto a assumir esse compromisso, escreva no seu cartão o nome dessa pessoa e logo abaixo o seu nome, e ao vir participar da Santa Ceia, reconsagrando sua vida a Cristo, deixe o seu cartão sobre o altar, consagrando a Deus a vida dessa pessoa." Vinte e duas deixaram seus cartões sobre o altar.

  

Já na Segunda-feira pela manhã fui visitá-las para saber se já haviam orado pela pessoa que desejavam levar a Cristo e que não esquecessem de entregar o folheto. E fiz mais um pedido: "Desejo ter o privilégio de conhecer a pessoa por quem você está orando, gostaria que você providenciasse uma oportunidade para me apresentá-la."

 

Por ocasião da Semana Santa todas as 22 pessoas pelas quais estávamos orando e, alguns de seus familiares, participaram da série de evangelização. Vinte delas deram o primeiro passo. Então solicitei aos irmãos que estavam orando por essas pessoas que as acompanhassem todas as quartas feiras para os encontros de orientação sobre como receber a salvação em Cristo.,.

  

Por ocasião do culto de celebração do Dia da Autonomia da Igreja Metodista, nossos irmãos acompanharam para o altar esses candidatos a profissão de fé. por quem estavam orando. Foi um dia de grande júbilo!

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Não precisa ir embora Pastor

No final de nosso pastorado de cinco anos em São Gabriel, ao despedir-me da congregação afirmei que já era tempo de eu sair e de vir outro pastor, pois já havia pregado tudo o que eu sabia. A irmã Olívia, já beirando seus oitenta anos, exclamou: "Pastor, o senhor não precisa ir embora, pode pregar todos os seus sermões outra vez, eu só me lembro de um deles!"

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23 de fevereiro de 2000

Prezada Zuleica,

Acabo de receber sua carta postada a l6 do corrente que passo a responder.

 

Primeiramente, alguns dados pessoais. Meus pais, Revdo. Daniel Lander Betts e Sra. Francisca Scott Betts, missionários enviados pela Board of Missions da Igreja Metodista dos EUA, chegaram ao Brasil a 9 de setembro de l9l9. Foram enviados, em 1920, para assumir a direção do Instituto Ginasial de Passo Fundo, RGS e a construção dos prédios de aulas e do internato. Foi ali que eu e meu irmão Billy nascemos. Meus pais ficaram na direção do "IE" de 1920 a 1924, regressando para mais um período, de 1926-1928, depois de servirem um ano no Instituto Central do Povo, no Rio de Janeiro.

1929 - 1930 assumem o pastorado e superintendência do Distrito de Cruz Alta. Nessa cidade cursei o primeiro ano primário no Colégio Elementar (escola pública)

  

1931 -1932 assumem o pastorado da Igreja em Uruguaiana. Ali cursei o segundo e terceiro anos do primário, no Colégio União da Igreja Metodista.

  

1933 - 1941 São enviados para Porto União, SC. Para iniciar trabalho metodista naquele Estado e sul do Paraná. Ali cursei o quarto e quinto ano primário no Colégio Teuto-Brasileiro.

  

De 1936 a 1941 estudei, como aluno interno, no Instituto Ginasial de Passo fundo. Do admissão ao quinto ano ginasial Foi nesse período, a l4 de setembro de 1938, que senti o chamado para o ministério pastoral.

  

Cursei os cinco anos na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista em Rudge Ramos - na época Bairro dos Meninos -(1942 - 1946) servindo, durante esse período todo, na Igreja Metodista da Moóca De junho de 1945 a julho de 1946 presidi, por indicação da Confederação Evangélica do Brasil, a Comissão Organizadora do II Congresso Nacional da Mocidade Evangélica.

  

Em 1947 agraciado com uma bolsa de estudos rumei para Dallas, Texas, EUA para fazer o Mestrado em Educação Cristã, na Perkins School of Theology, grau alcançado em 1949. (Em dezembro de 1947 casei-me com Gladys Caroline Smith, nascida em Porto Alegre, RGS, filha do casal Revdo. C. L. Smith de May Dye Smith, missionários metodistas que serviram no Brasil de 1906 a 1946.

 

Por solicitação do Conselho Central da Igreja Metodista do Brasil regressei como missionário da Board of Missions of the Methodist Church.

  

Ao passar por São Paulo, o Revdo. Afonso Romano Filho, então reitor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil, convidou-me para assumir a cadeira de Educação Crista na Faculdade. Declinei do convite por julgar mais sábio pôr a prova a "teoria" antes de tentar guiar outros na "prática".

  

Recebemos nomeação para as Igrejas de São Gabriel e Rosário do Sul em janeiro de 1950, onde labutamos até 1955. (Fui ordenado "Diácono" no Concilio Regional do Sul em 1950, e "Presbítero" em 1952). Algo de nossa atuação nessa paróquia você encontrará registrado na Cruz de Malta.: Fev. 1953, pgs.17-22 "Pastor com "P" Maiúsculo " e Jun. de 1954, pags. 34 -41, "Invasão de São Clemente.

  

Em 1956, enquanto pastoreávamos a Igreja Metodista em Livramento, RGS, o Revdo. Natanael do Nascimento, então reitor, convidou-nos para assumir a cadeira de Educação Cristã na Faculdade de Teologia. Aceitamos o convite, por já ter posto em "prática" a "teoria". Lá colaboramos de 1957 a 196l. Todos os acadêmicos desse período foram meus alunos em ao menos duas matérias: Princípios e Métodos da Educação Cristã, e Escola Dominical. Muitos deles participaram no preparo das lições de Escola Dominical para o primeiro currículo Metodista para ED. lançado em 1967, bem como para o Curso Para Obreiros Por Correspondência. Foram cinco anos de excitante convivência com os acadêmicos no esforço de ajudá-los a vivenciar o conceito de que educar é ensinar a viver, e educar cristãmente é ensinar a viver Cristo, lembrando sempre que ensinar é ajudar o educando na modificação de sua experiência atual à luz do propósito estabelecido, que no caso do ensino cristão é a pessoa, vida e ensinos de Cristo.

  

Em 1963, a convite do Revdo. Charles Wesley Clay, Secretário da Junta Geral de Educação Cristã, fui trabalhar como seu assistente, com responsabilidade particular do trabalho com a juventude, no preparo de um "Manual das Sociedades Metodistas de Jovens"(1963) e organização do Congresso Geral da Mocidade Metodista, que teve lugar em Piracicaba em julho de 1964 sob o tema: "Para Mim o Viver é Cristo"

  

Pôr ocasião do Concílio Geral de 1965 fui eleito Secretário da Junta Geral de Educação Cristã. Servi até o Concílio Geral seguinte, que, em sua segunda sessão, realizada em janeiro de 1971, extinguiu as Juntas Gerais. Embora tenha sido um período bastante conturbado da vida nacional, que teve seus reflexos na vida da Igreja Metodista, resultando no fechamento da Faculdade de Teologia e a convocação do primeiro Concílio Geral Extraordinário, em l969, a JUGEC continuou o seu trabalho.

  

Dois fatos importantes aconteceram no ano do Centenário do Metodismo Permanente no Brasil (1967) a criação do COGEIME como órgão autônomo e o lançamento das Revistas Metodistas para Escola Dominical.

  

Uma apresentação sucinta do que a JUGEC realizou durante o quinquênio encontra-se no relatório que segue em anexo. Fato curioso é que embora cópias do dito relatório, em número suficiente para todos os conciliares, tenham sido, a pedido da mesa do Concílio, colocado no palco, junto aos relatórios das outras duas Junta Gerais, e seis exemplares entregues a mesa do Concílio., o mesmo não tenha constado das Atas e Documentos do X Concílio Geral!

  

Em 197l, após o Concílio Geral, retornamos a nossa região de origem, II Região Eclesiástica, onde pastoreamos a Igreja Metodista Central de Porto Alegre (1971 - 1974), Igreja da Glória (1975 - 1976), Igreja Wesley (1977 - 1982) e Igreja de Vila Jardim (1983 -1993) onde construímos um prédio de múltiplo uso como Centro Comunitário, com programa recreativo e reforço escolar para a criançada do bairro (favela), cursos de corte e costura e pintura em tecido para as mulheres. Franqueamos o salão que serve, normalmente como salão de culto, à "Associação de Amigos do Bairro " para suas reuniões. Participamos também da direção e programação da creche mantida pela igreja, atendendo 75 crianças de 2 a 6 anos de idade de Segunda a Sexta-feira.

  

Como Secretário Regional de Educação Cristã, l971 -1978, organizei uma equipe para a realização de cursos para obreiros da Escola Dominical. Cinco matérias: Bíblia, Doutrina, Hist. da Igreja, Ed. Cristã, e ED. 12 horas num final de semana - uma vez por mês. Mais de quatrocentas pessoas participaram desses cursos. realizados em l5 igrejas locais.

  

Com um grupo de jovens da Igreja Metodista de Vila Jardim, organizamos a "Rede de Comunicação Metodista" para a produção de documentários em fita de vídeo sobre o metodismo no RGS. Durante três anos editamos o "Vídeo Jornal" um programa mensal de l5 minutos, em fita de vídeo, destacando os principais acontecimentos. Publicamos uma série de opúsculos sobre o metodismo no RGS.

  

Presentemente estou pesquisando e compilando informação sobre os missionários que serviram aqui no RGS, no intuito de apresentar um esboço biográfico dos mesmos. Envio-lhe, em separado, um primeiro resultado desse projeto.

Espero, Zuleica, ter atendido com este documento escrito, a sua "entrevista oral" que seu gravador se recusou a registrar.

  

Fraternalmente,

  

João Nelson Betts

Metodismo

Rio Grande do Sul

Obrigado pela sua mensagem!

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